Vinícola espanhola elabora grandes vinhos orgânicos e biodinâmicos
05/10/2024
(Foto: Reprodução) Representante da Dominio de Punctum explica a filosofia de não usar produtos químicos nos vinhedos. Na crescente busca por uma alimentação saudável, os apreciadores de vinhos estão impulsionando o consumo de rótulos orgânicos e biodinâmicos. Segundo o relatório “Organic Wine Market Forecast to 2028”, o setor deve dobrar de tamanho nos próximos cinco anos e alcançar 25 bilhões de dólares em nível global.
Fundada em 2005 e especializada em vinhos orgânicos e biodinâmicos, a vinícola espanhola Dominio de Punctum já é uma realidade consolidada no mercado mundial com presença em mais de 40 países, incluindo o Brasil, onde é representada pelas importadoras Porto a Porto e Casa Flora.
Comandada pelos irmãos Jesús, Ruth e Cristina Fernandez, a vinícola tem vinhedos próprios na cidade de Las Pedroñeras, na região de Castilla-La Mancha, uma das principais áreas de produção da Espanha.
De lá saem vinhos orgânicos, biodinâmicos e veganos. No Brasil, o portfólio conta com a icônica linha 99 Rosas, nas versões branco, rosé e tinto, e o recém-lançado vinho laranja 20.000 Léguas.
Conheça a filosofia da Dominio de Punctum na entrevista a seguir com Pepe Candau, diretor de exportações da vinícola.
A Dominio de Punctum elabora vinhos orgânicos e biodinâmicos. O que significa isso concretamente?
Dominio de Punctum é a expressão máxima de respeito pela natureza e pelo nosso próprio corpo na elaboração de vinhos. Somos orgânicos desde que começamos a produzir o nosso vinho. Para isso tivemos que passar três anos (o tempo que leva para a vinha passar do convencional ao biológico) sem vender a nossa produção. Também somos biodinâmicos desde 2010.
O que é um vinho orgânico?
Ser orgânico significa que não utilizamos quaisquer elementos químicos sintéticos, nem na vinha nem na adega, na produção do vinho. Ou seja, não utilizamos produtos químicos que ajudem no desenvolvimento do vinho durante a sua fermentação nem adicionamos quaisquer produtos químicos no final do vinho para realçar o seu sabor ou prevenir possíveis defeitos. Para evitar tudo isto temos a experiência e a habilidade da nossa grande enóloga Ruth Fernández e seu equipamento.
E na vinha?
Não utilizamos herbicidas, pesticidas ou quaisquer outros produtos químicos para prevenir possíveis pragas, mas, para nos ajudar a controlar as pragas, utilizamos a própria natureza.
Temos uma roseira na nossa vinha principal e se há insetos ou vemos que as rosas estão começando a sofrer, sabemos que teremos que enfrentar uma praga. Um dia contamos quantas rosas havia naquela roseira e eram 99! É por isso que o vinho se chama 99 Rosas.
E biodinâmico, o que significa?
A biodinâmica é uma filosofia antiga que prega que todos os elementos que influenciam a produção de vinho devem viver em harmonia. Quem são esses atores? A terra onde está plantada a vinha, a própria vinha e a vegetação que a rodeia, o agricultor que cuida das vinhas, os animais que rodeiam a vinha, e também as estrelas.
O que o céu tem a ver com o vinho?
A posição da lua é muito importante para nós e embora possa parecer estranho ou que não tenha relação direta com a agricultura, tem. Tomemos como exemplo o mar: se a lua estiver próxima da Terra, a água do mar, por efeito da gravidade, tende a subir e gerar ondas. Por outro lado, se a lua estiver longe da Terra, o mar permanece calmo. O mesmo acontece com a água que está no subsolo e alimenta as raízes das nossas videiras e também com a seiva que está dentro da planta. Então, dependendo de onde está a lua, fazemos um tratamento ou outro na vinha.
Alguns consumidores temem também os sulfitos usados para conservar o vinho na garrafa. Vocês usam essas substâncias?
No caso dos sulfitos, que tanto preocupam a nós, consumidores, a regulamentação ecológica permite-nos adicionar até 150 partes por milhão de SO2 [dióxido de enxofre], a biodinâmica até 100 partes por milhão. Trabalhamos sempre abaixo de 100 partes por milhão de sulfitos.
Os vinhos da Dominio de Punctum também são veganos. Como um vinho pode ser vegano?
Há alguns anos também somos veganos. Os leitores vão pensar, mas se o vinho é um suco de uva fermentado, como pode não ser veganos? Pois bem, porque para tornar o vinho adequado ao consumo é necessário passar por um processo denominado clarificação para o qual é necessária uma proteína. Normalmente a proteína utilizada é clara de ovo, no nosso caso utilizamos proteína de ervilha verde.
A última certificação que obtivemos é a pegada de carbono. Medimos a pegada de carbono que deixamos ao produzir os nossos vinhos e reduzimos e compensamos, no nosso caso, financiando projetos de reflorestação. Além disso, a cobertura da nossa adega está repleta de painéis solares, que nos dão energia para produzir o vinho.
Qual é o diferencial da agricultura biodinâmica em relação aos vinhos produzidos segundo os princípios convencionais?
Não notamos a principal diferença no sabor, mas sim no respeito pelo nosso próprio corpo e pela terra e plantas com que lidamos. Isso se traduz num consumo de vinho mais saudável e num maior respeito pela natureza e pelo ambiente que nos rodeia.
Quais são os principais desafios da produção orgânica e biodinâmica?
Para mim, são principalmente dois: ao nível da produção, devemos melhorar as técnicas para controlar os riscos que esta forma de produzir vinho apresenta. A nível comercial já estamos conseguindo acabar com aquele falso mito de que os vinhos biológicos/biodinâmicos eram vinhos ruins ou com defeitos. Acredito humildemente que ajudamos a eliminar essa falsa impressão e demonstramos que é possível produzir vinhos de qualidade respeitando a natureza e o consumidor.
A linha 99 Rosas, que conta com branco, rosé e tinto, é icônica da Dominio de Punctum. Qual é o segredo do sucesso dessa linha?
Seria impossível apontar um único motivo, acho que são vários. O principal é que é uma proposta muito completa e aprimorada. Para nós, o principal é fazer um vinho de qualidade, que também tenha um bom preço e que a relação custo-benefício para o cliente seja ótima. A isso devemos acrescentar um rótulo marcante, orgânico, cultivado biodinamicamente, vegano e sustentável. No final, é uma proposta em que entregamos muito valor ao cliente.
Qual é o perfil dos vinhos 99 Rosas?
São vinhos frescos, frutados e muito fáceis de beber, com aromas muito apreciados no Brasil, como abacaxi, banana e manga, no branco; frutas vermelhas frescas, no rosé; e morango e framboesa junto com especiarias e notas vegetais, no tinto. São vinhos pouco adstringentes e muito sedosos e aveludados.
Como mudou o mercado brasileiro desde que vocês começaram a exportar?
Tenho a sorte de ser uma testemunha de luxo do desenvolvimento do mercado de vinhos no Brasil nos últimos anos. Um mercado em crescimento no qual há cada vez mais bebedores e interessados em vinho.
Há também o incrível desenvolvimento do mercado de produtos orgânicos e ecologicamente corretos no Brasil. As novas gerações demonstram claramente o seu interesse pela sua própria saúde e pelo ambiente que nos rodeia e a 99 Rosas acompanha-as nos seus interesses há mais de 10 anos e é a referência em vinhos biológicos.
Por fim, o relacionamento excepcional com nossos parceiros no Brasil que nos permite conhecer as necessidades dos brasileiros e levar aos nossos consumidores do país vinhos feitos na sua medida e sabor. Um exemplo claro disso é a garrafa serigrafada que só fabricamos para o Brasil e que faz tanto sucesso.
Esse ano, a Porto a Porto iniciou a importação e distribuição no Brasil do vinho laranja 20.000 Léguas. Quais são as características desse rótulo e a qual público se direciona?
Estamos muito felizes por finalmente ter este vinho no Brasil. O vinho laranja começou a ser tendência há alguns anos em alguns países e agora essa tendência chegou ao Brasil e adoramos ser um dos primeiros a chegar com esse produto e tentar liderar a categoria como temos feito em outros países.
Vinho laranja ou vinho de contato com a pele é um vinho branco que se produz como se fosse um vinho tinto, ou seja, em contato com as próprias películas e sementes. É nas cascas e nas sementes que está a cor (daí o vinho assumir uma cor âmbar ou laranja) e os taninos que dão aquele toque adstringente e amargo ao vinho.
No nosso caso, com 20.000 Léguas queríamos fazer um vinho laranja de estilo mais leve e não muito amargo para que fosse um vinho bebível. É um vinho muito gastronômico, que acompanha muito bem alimentos salgados como queijos (manchego, gorgonzola, roquefort), tâmaras, anchovas, entre outras comidas.
Claro, o 20.000 Léguas ainda tem a nossa marca inconfundível. É orgânico, vegano, sustentável e cultivado biodinamicamente. A etiqueta é elegante e atraente. Qualidade excepcional e preço muito bom.
Como disse antes, é um vinho gastronômico e muito especial. É uma categoria que está apenas começando no Brasil e precisa ser explicada. É um vinho para consumidores que querem experimentar coisas novas e diferentes e para restaurantes que querem oferecer aos seus clientes uma harmonização diferente.
BEBA MENOS, BEBA MELHOR.
